Todos nós nascemos originais e morremos cópias - frase atribuída a Carl Jung. Mais uma vez estou esperando um sobrinho e
isto é maravilhoso. Primeiro porque é muito bom ser tio, segundo porque minha
irmã e seu marido estão felizes com a chegada do próximo filho e é assim que
todo mundo deve vir ao mundo, ou seja, desejado. Terceiro porque eu adoro
crianças, mas sei que os rebentos crescem, ficam caros e, sendo pobre e sem
aptidão para negociar meu tempo e vida com outro ser humano que eu não possa por
opção mandar à merda, não terei filhos. Por fim, acima de qualquer desejo ou anseio
de quem quer que seja, mais uma vida surge para nos mostrar, entre tantas
coisas, o quanto não valemos nada, absolutamente nada. A vida corre por si e,
em certa medida, isso se dá independente até mesmo de quem a vive.
Quanto ao bebê que desponta
por aí, chama-se Lorenzo e desbancou nomes como Noah, Vicente e Ignácio. Ao que tudo indica, chega em
fevereiro como a mãe Susana e a prima Cecília. Eu gosto bastante dessa ideia de
pertencimento zodiacal mesmo não entendendo nada de astrologia. Quero que ele
seja feliz e viva em um mundo onde as pessoas possam dizer, agir, serem exatamente
aquilo que tenham vontade sem que esta seja uma postura subversiva, mas apenas
mais uma forma de ser e estar. Torço para que, assim como o seu irmão, seja
muito amado, inteligente e vibrante e tenha força para enfrentar a existência –
este exercício árduo e desagradável com poucos, raros e intensos momentos de
felicidade.
Meu muito amado sobrinho, confesso que estava meio sem vontade de
escrever a ti porque ando há muito sem gosto por esta ação. Porém, desde que
nossa Vó Laura se foi, fiquei pensando no quanto ela estava feliz com o seu
nascimento e certamente rezando para que tudo corresse bem, tanto em sua
gestação como no dia do parto que ainda vai acontecer. Além disso, que não é
pouco, você será muito provavelmente a grande notícia boa depois desta dor
imensurável e isso já me aquece o coração, faz com que eu vença minha falta de
ânimo e pense em algumas palavras de boas vindas como fiz com Dante e Cecília
com mais inspiração, mas com o mesmo imenso e puro sentimento que já dispenso a
ti. O dia que sua mãe colocou a imagem de seu rostinho fotografado de uma ultrassonografia
pensei “que venha feliz, que seja feliz, que faça feliz” e, certo de que tudo
isto é possível, espero ansioso pelo dia em que o teremos nos braços,
contemplando infinitas possibilidades.
Você, Lorenzo, não tem compromisso algum! Seja como der, quiser e puder que estamos aqui de braços e corações abertos plenos de amor para dar e, caso queira ouvir um bom conselho dos muitos que eu lhe darei de graça, exercite a tolerância, mas com firmeza e saiba que o mundo está infestado de brutos e idiotas. Portanto, paciência e talento para não se amargurar que esta vida é de luta, lhe dá bem menos do que cobra. Desconfio eu que choramos ao nascer por nos depararmos com este imenso cenário de dementes. Saiba que, estranhamente, com tudo isto, viver pode ser uma imensa e bela aventura.
Voltando ao Carl Jung, faça de ti uma incrível versão. Boa sorte!