Renato era um belo e jovem rapaz que gostava de Clarice, uma moça que não costumava despertar olhares de ninguém devido ao seu temperamento difícil aliado a sua quase inexistente beleza física. Todos se perguntavam a mesma coisa: Como um moço tão belo pode gostar de uma mulher tão feia, desagradável e de hábitos deselegantes?
Enquanto ele praticava e ganhava todas as modalidades esportivas, ia bem na escola, chamando a atenção e cativando sempre com um sorriso no rosto, o contrário acontecia com Clarice. Porém, nada parecia abalar o romance deles - nem as investidas constantes de belas e despeitadas jovens e tampouco as piadas maldosas dos amigos do clube, do colégio e do bairro. Renato seguia absolutamente apaixonado e Clarice continuava constantemente desagradável e insatisfeita.
Tempos depois Renato estava no altar a esperar a noiva com seu terno elegante, porte de Príncipe, sorriso reluzente e muito alegre. Clarice entra pela Igreja com o mais belo vestido e mesmo assim ainda com aquele ar desagradável e a mesma falta de atrativos. A mãe do noivo cochicha no ouvido do filho que vai entender se ele desistir de tudo ali mesmo, mas com convicção absoluta o rapaz nem pensa nisso. Casam-se, festejam e seguem para a lua de mel.
Passam anos, Renato prospera na vida e fica muito rico. Clarice resolve ficar bonita e começa a fazer algumas intervenções que a deixam mais simpática. O problema é que enquanto a esposa vai se embelezando, o marido fica careca, gordo, diabético e acaba morrendo. Eis que no dia de sua viuvez, Clarice surge bela com nariz afilado por cirurgia plástica, esbelta e proporcional devido à lipos e academias, cabelos sedosos e dois filhos muito bonitos tal como o pai quando novo e que agora se encontra em um caixão para obesos. Porém, as surpresas não terminam por aí porque a viúva sofre com elegância e muita discrição, inclusive consolando os mais tristes e em nada lembrava a jovem feia e desagradável do passado.
No momento de enterrar o defunto ouve-se uma mulher gritar ao fundo que também tem direito ao morto, pois foi sua amante por mais de dez anos. Todos olham e veem uma lindíssima jovem com seus trinta e poucos anos ajoelhada aos prantos. Clarice pede licença, vai até a moça, ajuda a se levantar, leva até a lápide e pergunta se ela teve filho com Renato. Ela nega e a viúva oficial responde para que todos ouçam: Quero que respeitem a dor desta Senhora! Não era fácil para mulher alguma nesse mundo aturar o mau hálito e o sexo de tão pouca qualidade que ele tinha para oferecer. Volta-se novamente para a agora atônita amante e pergunta: Ao menos ele lhe dava boa vida?
A bela jovem abraça a viúva e chorando copiosamente enterra o rosto em seu colo. Clarice olha para o túmulo e pensa no quão poderia ter sido mais feliz se tivesse casado com um homem menos proeminente, mas que a satisfizesse na cama. Ao chegar em casa não quer saber de outra coisa além da manga que havia escondido no fundo da geladeira para que seu marido guloso não comesse.