Olá pessoal!
Depois de uma noite não dormida em frente ao computador passando raiva com o FHC no Jô Soares (a Hebe Camargo da classe média que sonha em ser elite), ouvindo e baixando música, assistindo “O Poderoso Chefão I e II”, assando pães e tomando coca-cola, resolvi assistir aquele noticiário da Globo - Bom Dia Brasil. Bem, tudo corria normalmente até o momento em que começou uma matéria sobre o Fórum Econômico Mundial que iniciou ontem e termina hoje em São Paulo. Como nem todo mundo aprecia o “Wall Street Journal” tentarei – sem me alongar muito – explicar mais ou menos o que é: as vinte e sete maiores economias do mundo se reúnem anualmente para discutir a economia global e o tema desse ano foi a China. Aliás, o tema dos últimos dez anos! Em suma todos perceberam que o gigante asiático está cada vez mais faminto e cresce velozmente abocanhando mercados devido à mão-de-obra baratíssima e farta.
A conversa do bloco das Américas logicamente terminou em... ALCA! Apareceu um consultor gringo com aquele papo mole de que a solução para nós, a fatia pobre que eles insistem em chamar de “em desenvolvimento”, é a Área de Livre Comércio das Américas. Claro que ninguém abriu o bico para rebater com exceção do Presidente do Banco Central da Argentina que, muito digno e corajoso, disse que os argentinos não são contra o projeto, mas sim a forma como ele vem sendo apresentado e que um bloco americano precisa trazer vantagens e divisas a todos, inclusive aos Estados Unidos. Já estava realizado com a resposta quando aprece ninguém menos que Jorge Gerdau Johannpeter (brasileiro badalado no mundo dos negócios que na década de noventa comprou cinco siderúrgicas nos Estados Unidos tornando-se um dos homens mais ricos do mundo). Suas palavras sobre o assunto foram: “Mercado não tem ideologia”. Ora, como não?!
Tudo tem ideologia e esse cafajeste sabe disso! Agora o pior não é ele tentar sustentar essa idéia (que para turma dos mais ricos é altamente lucrativa), mas a opinião pública, o senso comum aceitá-la e processá-la. Lembro-me de certa vez quando estava no primeiro colegial dizer para uma garota da sala: “Pare de comprar produtos de países como Taiwan porque eles utilizam trabalho infantil e escravo. Compre produtos daqui porque além de serem melhores a grana fica conosco (a ingenuidade adolescente é linda, não?)”. Ela, com suas canetas importadas, coloridas e cheirosas na mão me disse: “Não vou mudar o mundo com essa atitude e adoro minhas bugigangas”. Depois disso passei a achá-la uma mula e pensar que eu era o máximo do politicamente correto sempre comprando perfumes Armani, Yvés Saint-Laurent ou Kenzo. A questão é que naquela época eu não entendia que a ideologia está presente no cotidiano das pessoas e principalmente no mercado e nas mercadorias, ou seja, quando o meliante rouba seu Nike ele não está levando um tênis, mas um super modelo do que há de melhor e respeitável em termos de calçado (ele não precisa de um par de tênis, ele precisa da marca, uma vez que ela funciona como uma espécie de consentimento, um “alvará” de como se vestir e atua no imaginário coletivo da forma mais eficaz possível), da mesma maneira que eu precisava dos perfumes importados, pois é consenso que são melhores. A marca é um respaldo, um modelo a ser seguido, consumido. O mesmo ocorre com a cultura, uma vez que somos resultado histórico e social de uma ideologia. Nós não falamos luz no lugar de “light” ou “lumière” por fruto do acaso, mas porque viemos de uma colonização lusitana que trouxe um sistema capitalista explorador, católico conformista, entre tantos outros traços que carregamos até os dias de hoje. Nossos índices de violência doméstica, nossa homofobia, nosso descaso com as crianças, enfim nossa estrutura social, política e cultural é sim IDEOLÓGICA e isso é indiscutível!
Vocês devem estar se perguntando: Mas por quê esse desocupado e sedentário, que passou a madrugada empenhado em um regime de engorda, ficou tão irritado com o milionário defendendo a turma dele?
Simples: porque estou cansado e revoltado de fazer parte de uma classe média acrítica que não quer cidadania, mas privilégios. Nosso mal vai além da desinformação e da péssima formação que temos e que por si só já causam estragos irremediáveis. Além disso, contamos com o maldito conformismo e com a tristíssima falta de vergonha de querer se dar bem de maneira fácil e tortuosa. Enquanto aceitarmos normalmente que a coisa pública se confunda com a privada e não repensarmos nosso projeto de nação, a ideologia que aí está só vai se perpetuar e a América Latina vai ficando cada vez mais uma latrina.
Depois de uma noite não dormida em frente ao computador passando raiva com o FHC no Jô Soares (a Hebe Camargo da classe média que sonha em ser elite), ouvindo e baixando música, assistindo “O Poderoso Chefão I e II”, assando pães e tomando coca-cola, resolvi assistir aquele noticiário da Globo - Bom Dia Brasil. Bem, tudo corria normalmente até o momento em que começou uma matéria sobre o Fórum Econômico Mundial que iniciou ontem e termina hoje em São Paulo. Como nem todo mundo aprecia o “Wall Street Journal” tentarei – sem me alongar muito – explicar mais ou menos o que é: as vinte e sete maiores economias do mundo se reúnem anualmente para discutir a economia global e o tema desse ano foi a China. Aliás, o tema dos últimos dez anos! Em suma todos perceberam que o gigante asiático está cada vez mais faminto e cresce velozmente abocanhando mercados devido à mão-de-obra baratíssima e farta.
A conversa do bloco das Américas logicamente terminou em... ALCA! Apareceu um consultor gringo com aquele papo mole de que a solução para nós, a fatia pobre que eles insistem em chamar de “em desenvolvimento”, é a Área de Livre Comércio das Américas. Claro que ninguém abriu o bico para rebater com exceção do Presidente do Banco Central da Argentina que, muito digno e corajoso, disse que os argentinos não são contra o projeto, mas sim a forma como ele vem sendo apresentado e que um bloco americano precisa trazer vantagens e divisas a todos, inclusive aos Estados Unidos. Já estava realizado com a resposta quando aprece ninguém menos que Jorge Gerdau Johannpeter (brasileiro badalado no mundo dos negócios que na década de noventa comprou cinco siderúrgicas nos Estados Unidos tornando-se um dos homens mais ricos do mundo). Suas palavras sobre o assunto foram: “Mercado não tem ideologia”. Ora, como não?!
Tudo tem ideologia e esse cafajeste sabe disso! Agora o pior não é ele tentar sustentar essa idéia (que para turma dos mais ricos é altamente lucrativa), mas a opinião pública, o senso comum aceitá-la e processá-la. Lembro-me de certa vez quando estava no primeiro colegial dizer para uma garota da sala: “Pare de comprar produtos de países como Taiwan porque eles utilizam trabalho infantil e escravo. Compre produtos daqui porque além de serem melhores a grana fica conosco (a ingenuidade adolescente é linda, não?)”. Ela, com suas canetas importadas, coloridas e cheirosas na mão me disse: “Não vou mudar o mundo com essa atitude e adoro minhas bugigangas”. Depois disso passei a achá-la uma mula e pensar que eu era o máximo do politicamente correto sempre comprando perfumes Armani, Yvés Saint-Laurent ou Kenzo. A questão é que naquela época eu não entendia que a ideologia está presente no cotidiano das pessoas e principalmente no mercado e nas mercadorias, ou seja, quando o meliante rouba seu Nike ele não está levando um tênis, mas um super modelo do que há de melhor e respeitável em termos de calçado (ele não precisa de um par de tênis, ele precisa da marca, uma vez que ela funciona como uma espécie de consentimento, um “alvará” de como se vestir e atua no imaginário coletivo da forma mais eficaz possível), da mesma maneira que eu precisava dos perfumes importados, pois é consenso que são melhores. A marca é um respaldo, um modelo a ser seguido, consumido. O mesmo ocorre com a cultura, uma vez que somos resultado histórico e social de uma ideologia. Nós não falamos luz no lugar de “light” ou “lumière” por fruto do acaso, mas porque viemos de uma colonização lusitana que trouxe um sistema capitalista explorador, católico conformista, entre tantos outros traços que carregamos até os dias de hoje. Nossos índices de violência doméstica, nossa homofobia, nosso descaso com as crianças, enfim nossa estrutura social, política e cultural é sim IDEOLÓGICA e isso é indiscutível!
Vocês devem estar se perguntando: Mas por quê esse desocupado e sedentário, que passou a madrugada empenhado em um regime de engorda, ficou tão irritado com o milionário defendendo a turma dele?
Simples: porque estou cansado e revoltado de fazer parte de uma classe média acrítica que não quer cidadania, mas privilégios. Nosso mal vai além da desinformação e da péssima formação que temos e que por si só já causam estragos irremediáveis. Além disso, contamos com o maldito conformismo e com a tristíssima falta de vergonha de querer se dar bem de maneira fácil e tortuosa. Enquanto aceitarmos normalmente que a coisa pública se confunda com a privada e não repensarmos nosso projeto de nação, a ideologia que aí está só vai se perpetuar e a América Latina vai ficando cada vez mais uma latrina.
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