"A luz de seu olhar me permite sonhar"
Eu pensei muito antes de começar a escrever esse texto porque sei que posso acumular alguma inimizade e até um processo judicial, mas mesmo assim resolvi postar já que não deixaria nunca uma ou outra desclassificada pautar seja lá o que for na minha vida.
Hoje, dia quinze de Outubro é o tal Dia dos Professores e eu nunca me esqueço dessa data. Nunca mesmo! Esqueço até o aniversário de amigos e familiares, mas o Dia dos Professores é sempre lembrado e acho que isso se deve ao fato de eu ter tido grandes mestras e essa grandiosidade se manifestou ora pela competência, ora pelo carinho e também pela total aptidão para ensinar. Teve também muitas picaretas que ou eram só ruins ou eram ruins e canalhas. Porém no final prevaleceram aquelas que fazem do ensino o maior ofício que alguém pode ter.
A primeira figura que me vem à cabeça quando penso em professora é a Evanice, na época secretária do Museu onde minha mãe trabalhava e que me ensinou a escrever as primeiras palavras e ela o fez com tanto afinco que até hoje nossas letras se parecem. Não sei ao certo, mas tenho uma vaga lembrança de ter sido seu primeiro aluno, assim como ela foi a minha primeira professora e ainda rimos do quão errado eu falava. Era algo como: “Evanice, abre o Muçeu pra eu pegar a pipara que está lá denturu da sala?”. Aliás, fui uma criança neurótica porque além de falar muito errado, tinha mania de banhos (tomava no mínimo três por dia), ovos (comia três só pela manhã), vitamina de banana (feita pela Dona Dercília) e sorvete com o Vô Chiquinho (ele uma vaca preta e eu um Sunday). Mas, além disso, tinha o tique do Barbosa da TV Pirata e repetia três vezes a última palavra das sentenças (minhas e dos outros). Imagina quanto constrangimento devo ter causado.
Bem, voltando ao assunto, no primário fui alfabetizado por uma Senhora incrivelmente competente e de extrema sensibilidade e toda vez que me lembro dela sinto uma felicidade e uma ternura que me remete aos incríveis dias em que passei naquela sala de aula velha do Colégio das Freiras. Seu nome é Luiza, a minha Tia Luiza que era pra mim tão importante como a minha avó, uma vez que era fantástico como ela fazia do ensinar algo poético e belo e de como sabia lidar com os mais variados tipos de alunos. Eu a amava tanto que guardo ainda hoje um livro chamado “Uma pipa tão pipa no céu” com uma dedicatória dizendo que através da escrita e da leitura eu voaria solto e leve como uma pipa. Sim, eu adorava pipas e também peões de madeira e blocos de montar.
No ano seguinte fui aluno de uma psicopata seca (ela não teve filhos, felizmente) e embora devesse por precaução pular essa parte, prefiro falar mal. Essa mulher que não citarei o nome é monstruosa, incompetente e covarde, pois batia nos alunos e as freiras e toda a escola faziam e fazem (porque ela está lá até hoje) vista grossa ao método nazistinha dela. Bem, como não sou cristão e não tenho problemas em odiar, eu a odeio e quero que esse projeto de Demônio morra dolorosa e vagarosamente nas mãos daquelas enfermeiras que batem em velinhos gagás em asilos imundos. No ano seguinte fui aluno da Tia Mariza que era disputadíssima na matrícula porque além de competente tinha uma forma mais jovial de ensinar e não dava tarefa na sexta-feira. Muitas são as boas lembranças desse ano, mas as mais vivas em minha memória foram o dia em que ela ensinou Frações com barras de chocolate (que comemos depois) e também a quadrilha da Festa Junina (a dela era sempre a mais legal e inventiva).
Depois veio o Ginásio e agora tenho que pedir desculpas para Dona Cecília, professora de Português extremamente carinhosa que foi muito mal recebida por mim porque o fato é que na quinta-série fiz amizade com um “pessoal da pesada” que estudava na oitava e já estavam pixando muro e fumando Free escondidos e eu, fedelho metido, me enturmei e comecei a achar legal ser do mal. Eu não só a tratava com rispidez como ainda fazia tudo pra criar problemas e o maior deles foi quando ela passou uma atividade em que nós deveríamos escolher uma mercadoria qualquer e criar um merchandising novo ou aproveitar de outro produto de natureza distinta. Claro que o espírito de porco aqui aprontou e escolheu uma camisinha Jontex que tinha aos montes na gaveta do Francisquinho (eu até hoje não sei se ele usava tudo mesmo ou comprava pra fazer tipo). Bem, levei a camisinha e uma garrafa de cerveja Skol vazia. Abri o preservativo depois de ler como usar e coloquei na garrafa que simulava o pênis dizendo sarcasticamente para uma sala de crianças de dez, onze anos: “Sai dessa de morrer de Aids, abre uma Jontex!” Sei que isso é engraçado, mas morro de vergonha da minha agressividade gratuita nessa época.
Outro dia encontrei essa professora no Orkut e ela me deixou o seguinte depoimento: “Lucas, quero dizer o que sempre quis, você nunca saiu da minha memória, desde o primeiro dia de aula há tantos anos...mas, mais que o primeiro dia é a memória dos demais...incrível, não me lembro de quase ninguém daquela quinta série, mas nunca me esqueci de você!
Fico muito feliz que seja assim, essa pessoa tão iluminada, tão sábia e tão sincera.
Desejo que sua vida seja cheia de bênçãos.
Carinhosamente,
de alguém que nunca te esqueceu.
Um grande beijo”
Outras professoras também foram igualmente marcantes e são elas: Dona Jeni (ela me adorava e acreditava tanto no meu futuro), Dona Cristina (a risada mais contagiante e a melhor proposta didática que eu tive), Ana Sílvia (incrível professora de Redação), Arlete (devo confessar que até hoje tenho e consulto seus tópicos sobre Literatura Portuguesa e Brasileira), Nahara (essa foi sem dúvida a mais divertida e suas aulas era sempre movimentadas), Alvair (adorava um palavrão), Dona Márcia (uh, Tiazinha!), Dona Bety (que exigia a mais perfeita margem e legenda no caderno técnico), Dona Célia com suas apostas nunca pagas, Dona Marilda (a melhor professora de Geografia disparada), Dona Angélica (me fez ficar viciado em Análise Sintática na sétima série) , Seu Jáder (tirar sete com ele era nota alta) e em especial a Madá que nem cabe comentários de tão significante que foi.
Se eu for falar de todas não termino esse texto. Os não citados ou não deixaram marcas ou foram muito ruins e digo isso porque não me dou ao ridículo de fingir que tudo foi bom. Não, não foi e teve tipos que deveriam se envergonhar de entrar numa sala de aula. Portanto hoje, parabéns a todos os bons mestres que cruzaram meu caminho e deixaram marcas inesquecíveis porque pra mim ensinar é tão sagrado quanto parir e já disse Milton Nascimento que "tudo o que move é sagrado" e eu acredito piamente que quanto mais se ensina, mais aprende o que se ensina. Minha eterna gratidão e carinho.
Abraços do Lucas, o mais Franco.
Um comentário:
Querido Lucas, é justamente por ser o mais franco que o admiro tanto e venho por meio deste apenas ressaltar que a psicopata seca infelizmente também faz parte das minhas piores lembranças.
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