sábado, abril 29, 2006

Ideologia - você quer uma pra viver?

Olá pessoal!

Depois de uma noite não dormida em frente ao computador passando raiva com o FHC no Jô Soares (a Hebe Camargo da classe média que sonha em ser elite), ouvindo e baixando música, assistindo “O Poderoso Chefão I e II”, assando pães e tomando coca-cola, resolvi assistir aquele noticiário da Globo - Bom Dia Brasil. Bem, tudo corria normalmente até o momento em que começou uma matéria sobre o Fórum Econômico Mundial que iniciou ontem e termina hoje em São Paulo. Como nem todo mundo aprecia o “Wall Street Journal” tentarei – sem me alongar muito – explicar mais ou menos o que é: as vinte e sete maiores economias do mundo se reúnem anualmente para discutir a economia global e o tema desse ano foi a China. Aliás, o tema dos últimos dez anos! Em suma todos perceberam que o gigante asiático está cada vez mais faminto e cresce velozmente abocanhando mercados devido à mão-de-obra baratíssima e farta.
A conversa do bloco das Américas logicamente terminou em... ALCA! Apareceu um consultor gringo com aquele papo mole de que a solução para nós, a fatia pobre que eles insistem em chamar de “em desenvolvimento”, é a Área de Livre Comércio das Américas. Claro que ninguém abriu o bico para rebater com exceção do Presidente do Banco Central da Argentina que, muito digno e corajoso, disse que os argentinos não são contra o projeto, mas sim a forma como ele vem sendo apresentado e que um bloco americano precisa trazer vantagens e divisas a todos, inclusive aos Estados Unidos. Já estava realizado com a resposta quando aprece ninguém menos que Jorge Gerdau Johannpeter (brasileiro badalado no mundo dos negócios que na década de noventa comprou cinco siderúrgicas nos Estados Unidos tornando-se um dos homens mais ricos do mundo). Suas palavras sobre o assunto foram: “Mercado não tem ideologia”. Ora, como não?!
Tudo tem ideologia e esse cafajeste sabe disso! Agora o pior não é ele tentar sustentar essa idéia (que para turma dos mais ricos é altamente lucrativa), mas a opinião pública, o senso comum aceitá-la e processá-la. Lembro-me de certa vez quando estava no primeiro colegial dizer para uma garota da sala: “Pare de comprar produtos de países como Taiwan porque eles utilizam trabalho infantil e escravo. Compre produtos daqui porque além de serem melhores a grana fica conosco (a ingenuidade adolescente é linda, não?)”. Ela, com suas canetas importadas, coloridas e cheirosas na mão me disse: “Não vou mudar o mundo com essa atitude e adoro minhas bugigangas”. Depois disso passei a achá-la uma mula e pensar que eu era o máximo do politicamente correto sempre comprando perfumes Armani, Yvés Saint-Laurent ou Kenzo. A questão é que naquela época eu não entendia que a ideologia está presente no cotidiano das pessoas e principalmente no mercado e nas mercadorias, ou seja, quando o meliante rouba seu Nike ele não está levando um tênis, mas um super modelo do que há de melhor e respeitável em termos de calçado (ele não precisa de um par de tênis, ele precisa da marca, uma vez que ela funciona como uma espécie de consentimento, um “alvará” de como se vestir e atua no imaginário coletivo da forma mais eficaz possível), da mesma maneira que eu precisava dos perfumes importados, pois é consenso que são melhores. A marca é um respaldo, um modelo a ser seguido, consumido. O mesmo ocorre com a cultura, uma vez que somos resultado histórico e social de uma ideologia. Nós não falamos luz no lugar de “light” ou “lumière” por fruto do acaso, mas porque viemos de uma colonização lusitana que trouxe um sistema capitalista explorador, católico conformista, entre tantos outros traços que carregamos até os dias de hoje. Nossos índices de violência doméstica, nossa homofobia, nosso descaso com as crianças, enfim nossa estrutura social, política e cultural é sim IDEOLÓGICA e isso é indiscutível!
Vocês devem estar se perguntando: Mas por quê esse desocupado e sedentário, que passou a madrugada empenhado em um regime de engorda, ficou tão irritado com o milionário defendendo a turma dele?
Simples: porque estou cansado e revoltado de fazer parte de uma classe média acrítica que não quer cidadania, mas privilégios. Nosso mal vai além da desinformação e da péssima formação que temos e que por si só já causam estragos irremediáveis. Além disso, contamos com o maldito conformismo e com a tristíssima falta de vergonha de querer se dar bem de maneira fácil e tortuosa. Enquanto aceitarmos normalmente que a coisa pública se confunda com a privada e não repensarmos nosso projeto de nação, a ideologia que aí está só vai se perpetuar e a América Latina vai ficando cada vez mais uma latrina.

quarta-feira, abril 26, 2006

O casamento, esse acontecimento.


Olá pessoal!

Faz tanto tempo que não escrevo que nem sei mais como começar. Sabe que estava relendo as mensagens que mandava a vocês e, sem mais, pensei: Puxa! Como você escreve bonitinho!
Agora, falando sério, vamos ao que interessa. Ah! Devo confessar que essa minha mania de escrever: "Agora, falando sério (entre vírgulas e blábláblá...) foi influência do Chico Buarque - de um antigo” long play “dele.
Então agora vamos ao que me trouxe aqui: o casamento do Francisquinho. Afinal casamento é sempre um acontecimento interessante. Eu adoro! Toda vez que sou convidado para um já vou pensando: Tomara que seja bem cafona, com noivinhos em cima do bolo, valsas mal dançadas, soluços de mães de noivos gordas e emocionadas, pais com laços mal dados na gravata, padrinhos e madrinhas com aquela cara de hoje é dia de pagar mico além, é claro, de um lauto jantar regado por etílicos de primeira linha.
Bem, o casamento do meu irmão NÃO TEVE: mães soluçando de emoção (namoraram dez anos), noivinhos em cima do bolo (eram três bolos diferentes), valsas mal dançadas (como não teria valsa, saciei minha sede de sacanagem e pedi para cantora entoar "Pela Luz dos Olhos Teus", hehe...), pais com laços de gravata mal dados (os laços eram daqueles triangulares - nobres), nem padrinhos e madrinhas com cara de hoje é dia de pagar mico (não teve religioso, nos pouparam do altarzinho e fomos direto para o profano, sem passar pelo sagrado).
E TEVE: um lauto jantar com etílicos de primeira linha. Foi aí que cavei a sepultura de minha imagem social na província!
Chegamos na festa eu (chique, parecendo um mafioso de terno e camisa escura com gravata cinza), minha irmã (linda e decotada), meu cunhado (argentino), Tia Ivana (fazendo um estilo "tia turca" - de dourado e saia longa) e já não lembro mais quem. Como éramos da família fui fazer um social com os convidados. Estava perfeito! Falei com todos e sobre tudo.
Segue uns exemplos:

Eu e um primo que é secretário municipal petista:
Eu: E aí primo (não lembro o nome dele), como vai?
Ele: Oh! Tudo bom.
Eu: E a prefeitura, como anda?
Ele: Naquelas. Falta verba pra tudo. O Firmino nos deixou sem caixa e blá blá blá ...
Eu (com cara de entendo seu drama): Sei, sei ... mas é isso aí. O que me tranqüiliza é que a cidade está em boas mãos.

Eu e uma amiga do PSDB que o marido faz parte do primeiro escalão do Alkimin:
Eu: Fulana! Como vai?
Ela: E aí meu lindo, tudo bem? Como você está bonito! A festa está linda!
Eu: Não é mesmo? Legal que esteja gostando! Fico feliz.
Ela: Contamos com você para campanha do Presidente Alkimin.
Eu: Mas é claro! Meu voto vocês já tem. Só não poderei participar da campanha porque estou de partida para Inglaterra. Mas estarei com vocês na torcida.
Ela (com cara de feliz): Eu sei que posso contar com você sempre meu querido...
Eu (dando corda): Agora me conta em “off” quem será nosso nome para Governador. Serra?
Ela (com aquela cara de quem vai contar um segredo): Não... Ele não pode! Assinou um acordo que não deixaria a cidade antes de terminar seu mandato. Meu grupo, que é da Dona Lila Covas, quer Alkimin lá e o Aníbal aqui.
Eu: Ahhhhh... Melhor, né?

Detalhe: EU NUNCA VOTEI NO PSDB, NEM NUNCA FIZ CAMPANHA PARA CANDIDATOS DELA.

E assim segui com minha faceta de relações públicas até o momento em que o uísque, "cowboy" como de costume, bateu e eu literalmente toquei o puteiro na festa sem me lembrar de nada do que ocorreu comigo depois da mesa de frios. Sei apenas o que as pessoas contam quando me encontram.

Com Maria Antônia, sócia de mamãe e amiga das antigas:
Ela: Lucas, você com certeza tomou um litro de uísque sozinho e quando eu ia tentar fazer você parar, você dizia: Ih... Liga não. Já estou acostumado. Eu só trabalho nesse grau.
Eu: Não acredito que eu falei isso!
Ela: Juro por Deus!

Com Sandra, minha cunhada e noiva:
Ela: Você colocou uma rosa na boca, tirou, colocou no meu decote, me fez dançar twist e quase me derrubou!
Eu (rindo): Não faria uma coisa dessas!

Com Adrián, meu cunhado argentino (tentarei reproduzir o sotaque):
Ele: Voxê caiu no xão e começo a rir e bater as pernas. E pulou igual um sapo.
Eu: hahahahahahahahaha... Isso eu faço mesmo (pular como sapo).

Com Tudinha, amiga de mamãe:
Ela: Você me fez dançar até o chão e minha coluna travou. Aí você me virou um montão, me fez entrar num trenzinho e me largou quando achou alguém para tirar para dançar. Você dançou com todo mundo, até com quem não conhecia.
Eu: Nossa! Por quê você não me deu um tapa na cara?
Ela: hahahahahha... Não, foi divertido!

Com meu pai:
Ele: Eu quis te dar uma surra!
Eu (com cara de não lembro de nada): Não sei o porquê!

Com minha mãe:
Ela: Ai filho, nós não podemos beber.
Eu: Está bem!

Com Tádzio, meu primo.
Ele: Foi só você ir embora que a festa acabou. Todos foram!
Eu: Ai Jesus! Vou ficar uns quinze anos sem sair em Penatown.

Agora vou deixar um recado que minha irmã pôs em meu orkut:

Estou vendo que, pelo jeito, ninguém está sabendo do seu show no casamento do Francisco, né?Pois é pessoal. Foi assim: 1. Ele encheu a cara de uísque2. Foi para a pista de dança para chacoalhar as pessoas3. Depois de chacoalhar, tentava derrubá-las4. Jogou a partitura da cantora no chão5. Tentou derrubar o teclado do músico6. Quando, finalmente ele foi para o chão, ficou de pernas pro ar7. Também chacoalhou a noiva, que só não foi para o chão porque um primo nosso a segurou, ou melhor, segurou ambos8. E para finalizar, pasmem, caiu da escada feito um saco de batatas9. On the day after, não se lembrava de nada, nem sabia porque estava com o queixo ralado e doendo.Em suma: A FESTA DE CASAMENTO DO FRAN FOI SÚPER ANIMADA, graças a muitos fatores, mas sem dúvida nenhuma a elegante presença do brother Lucas foi fundamental pra marcar de vez a data na memória. Das festas mais animadas que já fui!

Abraços do Lucas, o mais Franco.

P.s.: Dizem que caí da escada no momento em que me soltei de papai que me levava para casa. Será que é por isso que ele quis me dar uma surra e que acordei roxo e doendo?
P.s. II: O bom é que não lembro de nada. Uísque bom é assim, com amnésia!