sexta-feira, dezembro 07, 2007

Ouça outra vez

"Mas era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado"
(Gabriel García Marquez)
Olá pessoal!
Vocês que já estão com vinte e poucos anos ou mais já pararam pra pensar no que se agarraram para sobreviver à adolescência ou, pelo menos, sair vivo dela?

Bem, eu já! E como um adolescente sempre cheio de certezas sei que a música foi, sem sombra de dúvidas, meu pára-quedas, meu veneno anti-monotonia e por tudo isso minha salvação. Lembro-me de alguns álbuns que me acompanharam diariamente por anos e anos. Discos que ouvia e ainda ouço com contemplação absurda. São eles: "Debaixo dos Caracóis dos seus cabelos" de Nara Leão, "A Marca da Zorra" de Rita Lee, "O Sorriso do Gato de Alice" de Gal Costa, "Greatest Rits" dos Rolling Stones, "What a Wonderful Wourld" de Louis Armstrong, "My Way" de Frank Sinatra e "Série Grandes Nomes" de Chico Buarque.

Claro que nem só de pérolas vivia esse pobre e sujo porco que vos fala. Também ouvi com fone de ouvido (para ninguém perceber), discos como "Globo Special Rits" (que trazia coisas como All that she wants e Mister Loverman) e "O Canto da Cidade" de Daniela Mercury. Porém como já escrevi por aqui sempre detestei Nirvana e Guns e isso é um grande problema porque é tão incomum como ter vivido nos anos setenta e não gritado com Janis Joplin (outra que não gosto), não ter chorado com a morte de Jim Morrison (a quem tento sem sucesso fisicamente parecer - daí o cabelo), não ter odiado Yoko Ono (a quem adoro), não ter sonhado com a Rota 66, o "California dreamin", não ter namorado ao som dos "The Mammas and the Papas" ou ouvido "aquela canção" do Roberto e muitas outras canções que marcaram época.

Lembro-me de ainda em Penápolis ir a alguns bailes ou "brincadeiras dançantes" (festas que ocorriam na casa de alguém onde gelo seco, néons e lasers reinavam ao lado de ponches açucarados, refrigerantes e trilhas que iam de Pet Shop Boys até Ace of Base passando obrigatoriamente pela loira-esquisita-channel Cindy Lauper) e achar aquilo tudo tão, digamos assim, enfadonho. Não gostava nadinha e ao voltar pra casa buscava novamente a minha "playlist" que para meus amigos (poucos, diga-se de passagem) seria a chatice. Hoje como deixei de ser adolescente para ser apenas chato, acho ótimo quando em alguma festa toca músicas dos anos noventa e percebo que além da decadência física o passar dos anos pode nos trazer também a tolerância necessária para não sermos inconvenientes e que o fim da adolescência é não somente uma alforria, mas também o fim das certezas absolutas que nos torna tão idiotas.

Isso é pura suposição, claro! Porque a única certeza é a de que a música continua sendo meu principal comburente, minha única "tábua de salvação" nas noites de insônia e/ou sem combustão.


Abraços do Lucas, o mais Franco.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Perigos da Metrópole

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Narratividade e Roteirização IV – Paisagem Sonora
Pauta: Roteiro Audioficcional
Autor: Lucas Franco; matrícula 04005833

Olá pessoal!

Bem, como não consegui abrir uma nova conta no blogger, resolvi postar aqui meu roteiro de conclusão da disciplina Narratividade e Roteirização IV. O trabalho que já tinha como pauta os perigos da cidade de São Paulo teve mudanças drásticas devido ao meu absoluto não talento com questões técnicas, falta de tempo e também porque os laboratórios da PUC estão "atolados" com TCCs e por isso não consegui editar meu vídeo onde entrevistei trabalhadores da noite, como garçons, lixeiros, prostitutas, michês, vigias, entre tantos outros. Uma pena, pois terei que terminá-lo nas férias e aproveitá-lo para outra disciplina no ano que vem.
Como a idéia era através das entrevistas criar uma narrativa de rádio misturando realidade e ficção resolvi manter o projeto a partir de notícias de jornal e escrevi um roteiro, ao meu ver, urbano, contemporâneo e que busca uma dose equilibrada de sedução, sarcasmo e reviravoltas. Espero que leiam e gostem.
Boa leitura!

Abraços do Lucas, o mais Franco.

PS: Vou postar o roteiro escrito e o áudio através do youtube.


“A ÚLTIMA DOSE”


AMBIENTE: Bar (sons de conversas paralelas, copos e música em altura baixa para não comprometer o diálogo.
TRILHA: Sophistecated Lady – Caetano Veloso (faixa 11 do álbum “A foreign sound).

Themis (voz aflita) – Moço, você viu uma mulher ruiva, altura mediana e vestida de preto?

Garçom – Não vi, não. Até agora não apareceu ninguém assim...

Themis – Está bem. Vou esperar, então. Me veja um Mojito de Manjericão por hora.

Helena (voz levemente provocante) – Olá, você deve ser a Themis.

Themis (dissimulada) – Depende... você me conhece de onde, hein?

Helena – De onde!? Por enquanto apenas das minhas fantasias. Mas você é bem mais bonita do que eu pensava...

Themis (mais sedutora) – Sou é?! Não me achou interessante pela web cam?

Helena (sussurrando) – Achei, claro! Quis dizer que de frente causa uma, digamos, impressão melhor. E parece atrevida também ...

Garçom – Seu Mojito.

Themis – Muito Obrigada!

Helena – Huuuuummmm... diferente. Como será uma mulher que pede um Mojito de Manjericão? Refrescante talvez...

Themis (desafiadora e com uma leve risada) – Isso eu já não sei dizer, mas posso permitir uma degustação bem servida.

Helena (firme e provocante) – Não vejo a hora de provar!

Themis – Por quê não esquecemos o jantar e vamos pra casa, hein? Meus filhos estão na casa do pai e podemos ficar tranqüilas.

Helena (irônica) – Tranqüilas?! Você havia me proposto tempestades em nosso último Chat.

Themis (incisiva) – Hoje faço e sou o que você quiser... faz de conta que essa será sua última noite.

Helena – Uau! Boa idéia! Por quê não ir?!

Themis – Moço pode fechar a conta e pedir meu carro, por favor?

Garçom (em tom atrevido) – Claro! Mas... tem certeza que vai ser só um Mojito?

Themis (firme e ríspida) – Tenho sim! Por quê hein?

Garçom (recomposto) Por nada...

SOM DE CARRO PARTINDO E TRILHA ABAIXANDO ATÉ SUMIR COMPLETAMENTE
TRILHA: Calling You – Gal Costa (faixa 11 do álbum “Aquele Frevo Axé)
SOM DE PORTA SE ABRINDO, SAPATOS DE SALTO DANDO UNS QUATRO PASSOS, PORTA FECHANDO E BARULHO DE CHAVE SENDO JOGADA EM MÓVEL DE MADEIRA

Themis – Quer alguma coisa? Uma água, uma taça de vinho?

FALA INTERROMPIDA POR SONS DE BEIJOS E AMASSOS

Helena (ofegante) – Quero sim... mas nada que tenha que ser preparado. Prefiro nua e crua.

MAIS SONS DE BEIJO, TECIDO SENDO RASGADO, ACESSÓRIOS, ROUPAS E SAPATOS SENDO JOGADOS PELO CHÃO.

Themis (tom vulgar e ofegante) – Como você é intensa! Parece uma gata arisca...

Helena (irônica e muito provocante) – Gata?! Isso porque você ainda não provou meu banho de língua...

RISADA DAS DUAS E MAIS SONS DE PRELIMINARES
TRILHA ABAIXA GRADATIVAMENTE ATÉ SUMIR
SOM DE CHAMADA TELEFÔNICA

Garçom (íntimo) – E aí, deu certo?

Themis (voz fria, calculista) – Sim, foi perfeito. Quanto tempo dura o efeito da droga?

Garçom – Mais ou menos duas horas.

Themis – Okay! Desta vez será fígado, coração? Aproveito ou não as córneas?

Garçom – Não! O John pediu rins. Assim que terminar me ligue para darmos um jeito no corpo. Agora tenho que desligar para que ninguém aqui do restaurante desconfie de mim.

Themis – Merda! Detesto extrair rins. Demora e a pessoa sempre corre o risco de acordar...

Garçom (sarcástico) – Ah! Pára com isso lindinha... Não seja preguiçosa! Ao menos valeu a pena? A mulher é gostosa...

Themis (indiferente) Você sabe que não me envolvo. Negócio é negócio! Prazer é só com você.

Garçom (rindo) – Ahã! Sei...

Themis ri apenas.

TRILHA: Come Together (Beatles)
CRÉDITOS.

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