quarta-feira, junho 13, 2012

Bolero Derradeiro



Olavo era velho! Decadente, meio corcunda, alcoólatra e vivia de renda. Tinha dois filhos que não ligavam e nem o visitavam nos longos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Na verdade ele só se deu conta de que não era importante para ninguém porque ao completar oitenta anos não recebera nenhum telefonema seja de familiares, colegas da repartição pública, de onde conseguiu ser exonerado por justa causa, ou mesmo dos poucos companheiros de copos e noitadas que acumulou nos últimos vinte nove mil e duzentos dias. Sim, ele fez a conta! Aliás, chocou-se quando percebeu que apesar de tudo o destino não lhe dera a demência ou alguma outra doença comum aos que passam a vida desafiando a saúde.

Pensou em ligar para os filhos, algum amigo, sobrinho, mas sabiamente chegou à conclusão de que não deveria. Então decidiu pegar o jornal e contratar alguma vagabunda daquelas que sempre o encantaram.

Sim, uma puta! Foi com e para elas que eu vivi! Preciso de uma puta nem que seja para conversar, beber um gim, dançar, mostrar que estou vivo!

Abriu o jornal e entre tantas resolveu ligar para Manu, a "estudante de fisioterapia".

Manu: Alô!
Olavo: Alô! Você é a moça do anúncio?
Manu: Sou. Você quem é?
Olavo: Quero contratar seus serviços! Não precisa da tal massagem, apenas esteja vestida de forma elegante, mas nem tanto. Gosto de mulheres vulgares!
Manu: Você vai me desculpar a pergunta, mas... o senhor já é de idade, não é?
Olavo: Algum problema nisso?
Manu: Não! Até prefiro... gosto de homens mais velhos porque são gentis.
Olavo: Ótimo! Pode ser hoje para o jantar?
Manu: Hoje? Pode, sim! Onde será?
Olavo: Gigetto! Rua Avanhandava 63 às 19:00 h e sem atraso.
Manu: Combinado! Estarei com um vestido vermelho.
Olavo: Não! Quero que se vista de branco e que tenha um decote displicente, cabelos soltos.
Manu: Branco?! Está bem! Vou ver alguma coisa aqui.
Olavo: Já tenho uma reserva lá! Basta pedir para ser levada até a mesa de Olavo Ribeiro.

Na hora marcada, no Giggeto, surge a moça em um vestido justo que contornava um corpo enxuto e moreno. Olavo a observa e gosta do que vê, sentindo pulsar um sangue que - por alguns instantes - o fazia esquecer-se da idade. Ela se senta, olha para ele com ar sedutor e diz:

Manu: Engraçado! Você é mais velho do que eu pensava. Acho que nunca peguei um cliente assim...
Olavo (interrompendo a moça): Assim como? Com idade para ser seu avô?
Manu: Não foi isso o que quis dizer! Me desculpe! Mesmo! Mas...
Olavo (interrompendo novamente): Mas é isso, não é? Não precisa ficar envergonhada ou achando que me ofendeu. Na minha idade é assim mesmo! Quem não me conhece me olha como um avô terno e quem me conhece como um velho safado.
Manu(achando graça): Na verdade você pode ser os três, não? Terno, avô e safado!
Olavo (esboçando um sorriso): É... podemos ser o que quisermos, não é mesmo?
Manu: Você me parece ser legal!
Olavo: Obrigado, muito obrigado!

Jantam, conversam, bebem um vinho e então vão embora. Manu não costuma atender à domicílio, apenas em hotéis, mas confiante resolveu ir até a casa do velho, pensando que seria tudo rápido e que - talvez - pudesse haver até alguma coisa de valor que ela pegaria e ele jamais teria coragem de reclamar. Ao chegarem no apartamento na Bela Cintra com a Alameda Jaú Olavo sente o olhar um pouco deslumbrado e pede que ela se sente. Vai até a vitrola, tira um disco de boleros, coloca e deixa rolar, serve um scotch para ambos, dão alguns goles e começam a dançar.

Olavo: Gosto do seu perfume! Cheiro de coisa cara sem muito critério na escolha.
Manu: Você está dizendo que gosta, mas é ruim?
Olavo: Disse que gosto e se gosto é porque é bom. Mania boba que os jovens tem de querer estar impecável! Eu já fui assim e já fui bonito, bom partido e agradável.
Manu: Sei! Eu não tenho muito como dialogar sobre isso, mas gostei mesmo de você, do trato, de tudo...
Olavo: Você lembra minha esposa, mas é mais quente, menos idiota, se mexe melhor...
Manu (rindo): Você é mesmo terrível para um avô terno, não?
Olavo (interrompendo a dança): Vá até o quarto, levante o vestido na altura do umbigo, deixe o sexo à mostra que eu já vou.
Manu: Pode deixar! Estarei pronta!

Ela vai até o quarto e começa a se preparar. Olavo passa no banheiro antes, pega o que precisa, se olha no espelho e pensa na grande noite que está para realizar. Ao entrar no quarto, vai em direção ao sexo completamente exposto da jovem, fecha os olhos, cheira, pede que ela pulse, olha, fica maravilhado e enfim começa a lamber primeiro de canto e lento, depois forte e invasivo. Manu perplexa com o grau de prazer que sente fica extasiada e pensa em como o subestimou. Da sala ouve-se Perfídia e o velho coloca um ou outro dedo dentro dela que continua a sentir um prazer incomum. Com a outra mão ele puxa um objeto que estava embaixo da cama e em um golpe brutal e certeiro rasga a barriga dela. O sangue jorra, ela grita desesperada por um ou dois minutos até morrer dolorosamente. Olavo em pé e com a boca suja de fluídos e sangue, pega a mesma faca e vai em direção certeira até o próprio pescoço. Enquanto se esvai, pensa: Eu sempre amei as putas! Com elas vivi, com elas morro! Da vitrola toca Sabor a mi!