sexta-feira, março 02, 2012

No Escuro...


Ontem conversando com um amigo de trabalho com raiva do convite que recebeu de uma ex que, embora ele diga que não representa nada, estou certo de que ainda ocupa grande espaço no coração amargurado do rapaz, pensei em como algumas escolhas a princípio banais podem mudar totalmente a vida da gente.

Antes vou explicar a situação por cima: ele tinha um namoro de quatro anos com a moça que conhecera ainda nos tempos de faculdade e no momento em que a monogamia tornou-se enfadonha, passaram a frequentar as tão popularizadas casas de swing. Aliás, se tem um hábito que podemos citar como fruto da última década no Brasil é isso. Como existe gente indo a lugares desse tipo e – ao contrário do que alguns pensam – pessoas jovens, bonitas, sedutoras! Claro que o sexo em grupo sempre existiu, mas essa parada dos lugares comerciais, com CNPJ e tudo dedicados à putaria me parece uma retomada das casas de banho da antiguidade clássica que o cristianismo sepultou por muitos anos. Bem, eu sinceramente acho bacana e interessante ver que os casais podem ter uma vida mais honesta, solta e dialogar acerca de suas fantasias porque acho meio decadente viver os tempos de hoje com o olhar no retrovisor, mirando-se em arquétipos tolos e que fogem completamente à natureza real e particular de cada um. Também me alegra pensar que alguém possa perfeitamente sair de um bacanal às 23:30 h, chegar em casa, dormir e levar o filho para a escola às 06:30 h, sendo zeloso e responsável em seu dia a dia.

Agora, voltando ao caso, ocorreu que depois de um tempo nessa vida de hedonismo helênico/romano, a garota decidiu que não o queria mais como namorado e que estava gostando de outra garota. Adivinha onde ela “descobriu” que gostava de amiguinhas? Bingo! Você acertou! Terminado o romance ele ficou desnorteado e com ódio do mundo, das surubas, dela, dele mesmo. Enfim, aquele ódio que sentimos quando entramos com o traseiro e o outro com o pé!

Passado algum tempo, essa semana a menina liga e o convida para jantar. Ele emputecido a trata de forma deselegante e me chama para fumar um cigarro. Convite aceito, ele com o cigarro e eu com a coca-cola:

Ele: Você acredita que aquela desgraçada me liga para me chamar pra jantar?
Eu: É...
Ele: Cara, que absurdo!
Eu: Mas... você perguntou a ela o porquê do convite?
Ele: NÃO! Não vou, não quero saber! Quero que ela morra!
Eu: Quer mesmo?
Ele (me interrompendo): Quero! Desgraçada!
Eu: Bem, me deixa falar o que eu acho?
Ele: Tá!
Eu: Fulano, é óbvio que você quer ir a esse encontro! Acho até que deve!

Ele tenta me interromper, mas eu sou enfático e corto.

Eu: Não! Me deixa terminar! Cara, você quer muito falar com ela. Se não quisesse não ficaria transtornado assim. Penso que deve isso tanto a você quanto a ela. Cara, essa moça passou 4 anos dando a xoxota pra você. Isso é muita coisa!
Ele: Lucas, essa vadia me traiu!
Eu: Como assim?! Deixa de ser lunático! Meu, vocês iam a casas de orgias!
Ele: Você não entende!
Eu (agora bravo): Entendo sim! Não venha subestimar minha capacidade de sacar o motivo verdadeiro da sua raiva! Cara, enquanto ela ia nesses lugares para satisfazer, entre outras coisas, sua vontade de trepar com outras garotas, de vê-la fazendo o mesmo e de ter a fantasia masculina de duas mulheres a seu serviço, estava tudo bem. Foi só ela se investigar melhor e sacar que podia e queria ter uma relação sólida com outra garota que aí ela virou uma biscate perversa.
Ele: E como você pode dizer que é isso?
Eu: Desculpe, mas o que você está sentindo é dor de corno e isso precisa passar. Há que se aceitar a ideia de que hoje todos somos passíveis de troca pelos dois gêneros. Qual a diferença entre ser trocado por outro cara ou por uma mina?
Ele: Agora eu sou o vilão então? O filho da puta sou eu!
Eu (um pouco sarcástico): Na boa, não tem filho da puta nesse caso...
Ele: Lucas, ela devia ter sido honesta comigo!
Eu: Ela foi! Tanto foi que deixou a vida tranquila de uma relação socialmente aceita para ser tachada de sapatão por aí e, talvez, ela nem seja gay, mas bissexual, o que a torna – aos olhos medíocres – ainda mais vadia.
Ele: E por que você acha que eu devia falar com ela?
Eu: Não sei. Quem deve saber é você! Não sou protagonista da sua história, apenas ouço suas lamúrias. Aliás, como já disse, decadentes! Até entendo que sua dor é real, mas nem por isso deixa de ser piegas e cafona, saca?
Ele: Nem sei porque te conto isso! Dos meus amigos você é o mais cruel...
Eu: É, eu sei disso! Por trás dessa carinha de moço bom do interior, esconde-se um pequeno monstro cultivado com esmero. Sempre foi assim, sempre será!
Ele (agora rindo): Filho da puta!
Eu: Pode parar! Mamãe nunca se meteu nessas festas selvagens que você frequenta...

Rimos os dois!

Não, é claro que ele não sabe que eu postei esse texto. Quanto aos curiosos, caso ele vá jantar com a menina, escrevo depois porque é óbvio que o pássaro ferido quer terminar de contar esse caso ao cruel aqui. Falar é – muitas vezes – a melhor forma de reconstruir nossas asas para voos maiores e até mais excitantes.