quarta-feira, novembro 24, 2010

O Nefasto!


Eu acho que todo mundo já se deparou com o canalha, não? Bem, eu não falo do canalha sedutor e comedor que povoa o imaginário coletivo, mas daquele nocivo, invejoso e destruidor. Sabe aquela pessoa que se aproxima de você, torna-se amiga e só te atrapalha? Nossa, eu não sei se são os trinta anos que bate à porta, o retorno de Saturno ou seja lá o que for, mas como eu tenho me deparado com essa qualidade de gente!

Existem vários subtipos de canalhas, mas eu me atenho a dois que são os frequentes: o burro e mais usual devido ao crescimento em escala geométrica da ignorância e falta de tato e o extremamente perigoso e ardiloso que eu chamo de “o canalha da boa sociedade”.

O primeiro tipo é fácil de perceber e acho que na verdade ele só é canalha por total falta de competência em desempenhar um papel melhor na vida. Geralmente ataca em bando e costuma ter como alvo os que fazem tudo aquilo que ele gostaria de ser e/ou fazer, mas lhe falta peito. Costuma usar o artifício da anedota corrosiva que os elementos mais desagradáveis adoram em suas rodinhas cheias de gente infelizes que estão rindo à toa e freneticamente. Quase sempre ele tem o emprego que não quer, o parceiro que não deseja, a casa que não gosta e até mesmo a cidade que não habita. É o frustrado tão comum nos dias de hoje que, quando a luz está apagada, é capaz das maiores e mais impublicáveis baixarias. Não configura um perigo, digamos assim, real. Aliás, pode ser até divertido odiá-lo de lado.

Já o segundo tipo é aquele que se faz envolvente, sedutor, é inteligente, muito agradável e, por isso tudo, você demora muito tempo para reconhecer, mas, quando isso acontece, ele fica tão desnudo diante da sua inesperada perspicácia que mal pode encará-lo e desaparece como em um passe de mágica, fazendo novas vítimas em outra freguesia. Como eu sempre gostei de um bom embate e não sou o que podemos chamar de uma vítima usual, costumo deixá-lo por perto e, sem que ele possa ter completa certeza de que foi de fato revelado, passo a tratá-lo bem com nuances de agressividade pouco nítida. Para tal, é preciso ter sangue frio, um certo ar aristocrático (para não escrachar) e muita, mas muita mágoa mesmo do elemento. Aliás, esse é um ponto importante porque a vingança não pode ser ad eternum senão faz mal, ou seja, chega aquele momento que ou você corta de vez, chamando para uma cerveja e antes de partir diz olhando nos olhos que ele é repugnante (claro que não precisa fazer essa cena toda, pois existem maneiras de deixar isso claro sem esboçar um músculo facial sequer) ou então vai cozinhando em fogo baixo até que o mesmo evapore de vez.

Eu me deparei com um tipo assim logo que entrei na PUC aqui em São Paulo em dois mil e quatro. Estava sentado em um canto conversando animadamente em uma roda quando esse ser humano que chamarei aqui de vômito apareceu e tentou me ridicularizar da maneira mais covarde, vil e desnecessária que possa haver. Como fui criado em um colégio de freiras onde a crueldade e o cinismo eram as moedas correntes entre a elite inculta de um interior decadente, coloquei o vômito no bolso e me saí – como quase sempre nessas situações – muito bem e esse foi o meu pecado, isto é, não ter expurgado logo o mal por achar que sou inteligente o suficiente para lidar com o canalha destruidor. Porém, por termos até hoje amigos em comum, transitando nas mesmas rodas, acabei levando muito tempo o vômito na maciota e em dado momento de distração ele me sujou com seu caráter maquiavélico e nojento. Nessas horas eu, e imagino que você que está me lendo, penso sempre o porquê de não ter acreditado e confiado na primeira impressão que tive do indivíduo, visto que todos nós nascemos para aquilo que somos e com o canalha não é diferente! Sempre me bate aquela sensação de credulidade infantil, sabe?

Bem, esse texto nem é para ser lido por todos, mas apenas pelo vômito que eu tenho certeza que sabe que é para ele. Afinal, o covarde tem plena consciência do quão ácidas e destrutivas podem ser suas atitudes e, não posso deixar de esclarecer, que o vômito é belo, cativante, muito inteligente, sabe trocar de pele como a mais peçonhenta das serpentes e até hoje quando me encontra fica em dúvida se eu o compreendi. Pessoa nefasta, eu exercito desde cedo a arte de domar répteis e saiba que eu posso reverenciá-lo com um sorriso nos lábios e uma faca mãos. Até o próximo e cínico encontro!