terça-feira, novembro 12, 2013

Esperando Lorenzo




Todos nós nascemos originais e morremos cópias - frase atribuída a Carl Jung. Mais uma vez estou esperando um sobrinho e isto é maravilhoso. Primeiro porque é muito bom ser tio, segundo porque minha irmã e seu marido estão felizes com a chegada do próximo filho e é assim que todo mundo deve vir ao mundo, ou seja, desejado. Terceiro porque eu adoro crianças, mas sei que os rebentos crescem, ficam caros e, sendo pobre e sem aptidão para negociar meu tempo e vida com outro ser humano que eu não possa por opção mandar à merda, não terei filhos. Por fim, acima de qualquer desejo ou anseio de quem quer que seja, mais uma vida surge para nos mostrar, entre tantas coisas, o quanto não valemos nada, absolutamente nada. A vida corre por si e, em certa medida, isso se dá independente até mesmo de quem a vive.

Quanto ao bebê que desponta por aí, chama-se Lorenzo e desbancou nomes como Noah, Vicente e Ignácio. Ao que tudo indica, chega em fevereiro como a mãe Susana e a prima Cecília. Eu gosto bastante dessa ideia de pertencimento zodiacal mesmo não entendendo nada de astrologia. Quero que ele seja feliz e viva em um mundo onde as pessoas possam dizer, agir, serem exatamente aquilo que tenham vontade sem que esta seja uma postura subversiva, mas apenas mais uma forma de ser e estar. Torço para que, assim como o seu irmão, seja muito amado, inteligente e vibrante e tenha força para enfrentar a existência – este exercício árduo e desagradável com poucos, raros e intensos momentos de felicidade.

Meu muito amado sobrinho, confesso que estava meio sem vontade de escrever a ti porque ando há muito sem gosto por esta ação. Porém, desde que nossa Vó Laura se foi, fiquei pensando no quanto ela estava feliz com o seu nascimento e certamente rezando para que tudo corresse bem, tanto em sua gestação como no dia do parto que ainda vai acontecer. Além disso, que não é pouco, você será muito provavelmente a grande notícia boa depois desta dor imensurável e isso já me aquece o coração, faz com que eu vença minha falta de ânimo e pense em algumas palavras de boas vindas como fiz com Dante e Cecília com mais inspiração, mas com o mesmo imenso e puro sentimento que já dispenso a ti. O dia que sua mãe colocou a imagem de seu rostinho fotografado de uma ultrassonografia pensei “que venha feliz, que seja feliz, que faça feliz” e, certo de que tudo isto é possível, espero ansioso pelo dia em que o teremos nos braços, contemplando infinitas possibilidades.

Você, Lorenzo, não tem compromisso algum! Seja como der, quiser e puder que estamos aqui de braços e corações abertos plenos de amor para dar e, caso queira ouvir um bom conselho dos muitos que eu lhe darei de graça, exercite a tolerância, mas com firmeza e saiba que o mundo está infestado de brutos e idiotas. Portanto, paciência e talento para não se amargurar que esta vida é de luta, lhe dá bem menos do que cobra. Desconfio eu que choramos ao nascer por nos depararmos com este imenso cenário de dementes. Saiba que, estranhamente, com tudo isto, viver pode ser uma imensa e bela aventura.

Voltando ao Carl Jung, faça de ti uma incrível versão. Boa sorte!

Só se for a dois, a três, de quatro...


"Eu disse não
Ela não ouvia
Mandei um sim
Logo serviu
Então pensei
Ela é bela
Porque não com ela
Sexo é bom!
Hum!"
(fragmaneto da letra Difícil - Marina Lima)

Acabo de chegar de uma festa com poucos e bons amigos. A questão é que de uns tempos pra cá tanta gente me conta coisas delicadas que isso, confesso, acabou me deixando intrigado.

Hoje foi a vez de um amigo que, bem preocupado, relata que "brochou" com a namorada por três vezes nas últimas semanas e como ele estava um tanto "alto" de uísque, sugeri que falássemos sobre o assunto na cozinha, pois alguém poderia ouvir e mesmo que isso seja algo natural é sempre bom mantermos uma certa discrição sobre a nossa vida sexual. Eu mesmo tenho pouca gente que sabe - de fato - da minha porque não a julgo, como dizer, publicável, e percebo que o que acham e dizem por aí é sempre melhor, mais excitante e perturbador do que a vida real. Aliás, prefiro que seja assim porque antes ser uma lenda do que uma personalidade insossa. Agora, voltando ao caso, vou reproduzir o diálogo:

Ele: Lucas, você já brochou?
Eu (surpreso): Eu?! Como assim? O que te falaram?
Ele: Cara, é sério! Eu pergunto porque isso tem acontecido comigo. Quer dizer, aconteceu umas três vezes nas últimas semanas...
Eu (mais calmo): Huuummm... não que eu tenha brochado, mas já saí pela tangente por saber que brocharia.
Ele: Como? Pau fica duro ou não!
Eu: É... na dúvida eu não abaixo as calças.
Ele: Ah! Você nunca achou que ia e não foi?
Eu: Fulano, deixa eu te explicar uma coisa: eu só faço o que eu quero! Foi sempre assim! Eu não transo por obrigação! Não gosto disso, acho triste, vulgar, feio mesmo! Mais do que isso: acho deformação de caráter! Se eu tiver que escolher entre saciar a mim mesmo e ao próximo, escolho sempre a primeira opção. Sexo só é bom se for real, entende?
Ele: Mas... você acha que eu estou com algum problema?
Eu: Não sou médico e nem psicanalista, mas... você é tão novo para estar com alguma disfunção física. Não que isso seja impossível, mas é um pouco improvável. Escuta, você transa com outras garotas? Como é?
Ele: Ah! Não... no começo do namoro transei, mas de uns tempos pra cá tenho sido fiel a ela.
Eu: E quando a beija, quando está com ela você pensa em outras?
Ele: Claro que em algum momento da transa penso em alguma mulher gostosa, mas estou com ela, gosto de estar com ela.
Eu: É... não sei o que pensar! Tenho medo de, sei lá, atrapalhar mais do que ajudar. Agora, só uma coisa: o que fez você me contar isso?
Ele: Precisava falar com alguém e pensei que ninguém seria mais direto. Você fala das coisas de maneira bem rápida.
Eu: hahahahahahaha... entendo! Bom, acho que o meu conselho pra você e pra todo mundo em relação a sexo é: não faça nada por obrigação! Sexo só é bom se for, de fato, uma realização de desejo.

A conversa não parou por aí, mas chegou no ponto que me interessa. Há bem pouco tempo uma amiga confessou que em sua vida matrimonial acaba transando sem vontade porque o marido insiste. Fiquei completamente embasbacado com tal confissão e pensei que não se pode aceitar que, nos dias de hoje, depois de tantas conquistas conseguidas com lutas, sendo muitas delas sangrentas, haja alguma mulher que se sujeite a isso. Fiquei bravo e disse que era ignorância ceder sem vontade, que se tratava de uma imposição cultural, de um atraso, de burrice e ignorância. Agora, olhando de longe, talvez tenha sido insensível e não dei o colo que certamente ela buscava. Por outro lado, quem vem falar comigo, talvez, queira isso mesmo, ou seja, a tal "maneira bem rápida" e pouco lapidada. Tudo isso, claro, é uma suposição, mas acho que bem fundamentada.

Não vou me alongar mais por não ser sexólogo. Porém, se alguém quiser saber o que eu acho primordial para uma vida sexual gostosa como deve ser, há apenas duas formas: a primeira é transar comigo e a segunda, bem mais simples e geral, é ler "um bom conselho que lhe dou de graça". Saiba dizer sim e não quando couber, invada, mas sempre pedindo permissão e se para caber tiver que fazer ajustes que lhe fira é porque algo não vai bem. Sexo a dois, a três, de quatro ou seja lá como for, só pode haver masturbação se for provocativa e não a única saída.