segunda-feira, dezembro 25, 2006

O quê será que me dá?

Olá pessoal!
Outro dia fui numa festinha e fiquei pensando em como pessoas da minha geração andam saudosistas - de uma época que nem sonhavam em viver. Pensei que esse caso fosse meu e de uma minoria, mas creio que não. Acho que é uma característica da contemporaneidade mesmo por alguns motivos que identifico em mim e em alguns infelizes desta geração sem muita luz no fim do túnel.
Bem, antes de irmos para festa fomos buscar um amigo num barzinho com a menina Júlia:
Júlia para mim: Grita o Pedrão aí.
Gritei, ele atendeu e veio para o carro.
Pedrão: Nossa! Vocês chegaram num momento tenso da conversa.
Alessa: Huuuuuuummmmmm ... estava rolando um clima com a mocinha?
Pedrão: Ela é uma amiga do cursinho que eu não via fazia um tempo ...
Júlia: E?
Eu (em cima da fala da Júlia): "... paixão antiga sempre mexe com a gente ..."
Pedrão (conseguindo, enfim, esclarecer): Estávamos falando sobre "Reforma/Revolução".
Ao mesmo tempo:
Júlia: Ih ...
Alessa: Nossaaaa ...
Petit emite um som de estranhamento que não consigo reproduzir aqui. Questão de fonética, sabe?
Eu: hahahahahahahahah ... nada mais classe média do que discutir "Reforma/Revolução" e parar para ir pra balada. Para ficar ainda mais pós-moderno só faltava ser uma "rave".
Júlia (achando graça): Pode crer!
Alessa ri e Petit não interage.
Pedrão: Sou obrigado a concordar.
Até chegarmos em nosso destino discutimos vários assuntos e o tom era sempre de saudosismo, fosse a pauta futebol (que para nós não produz mais campeonatos tão legais como antes ou política que não anda mais tão em discussão como esteve trinta anos atrás).
Bem, o fato é que para mim tudo não é mais tão instigante como antes. Me lembro de poucos fatos históricos que eu tenha visto "ao vivo" e que me são emocionantes e tenho poucos ídolos nas artes em geral que ainda produzem e/ou estão em evidência, tendo a impressão de que isso ocorre porque não me acostumo à idéia de que faço parte de uma época medíocre, tomada pela barbárie e onde o êxito é mais importante que o mérito, ou seja, não consigo me sentir feliz em ser parte de uma classe média desesperada para arrumar um "empregozinho" qualquer que me renda um certo conforto e uma aposentadoria num futuro distante que pague meus remédios. Não darei continuidade a espécie e creio que essa é uma decisão que não mudarei por uma total falta de tato para lidar com frutos e por estilo de vida mesmo. A verdade é que não acredito no mundo e muito menos na raça humana e também porque a vida está cara e entre pagar colégio e faculdade para um fedelho qualquer e continuar comprando meus cds, livros e dvds, fico com a segunda opção sem pestanejar.
Chegando na festa os "hits" eram, via de regra, anos sessenta, setenta, oitenta, alguma coisa dos noventa e quase nada de agora. Aí você, caro e escasso leitor pode dizer: Ah, mas o Lucas está sendo chato ... afinal não dá para ouvir as músicas de hoje.
Pergunto então: E o quê você leu recentemente que tenha lhe tocado ou feito pensar tanto quanto Machado de Assis, Graciliano Ramos, Raúl Pompéia, Fernando Pessoa, Hemingway, Tenessee Willians, Sartre, Valter Benjamin, Marx, entre tantos outros? Que artista plástico lhe instiga hoje como Picasso, Modigliani, Monet, Hopper, Miró? Quem, da recente MPB e mesmo da música mundial, está cantando e fazendo você suspender a gravidade? Que líder político no Brasil está mobilizando ou mesmo tentando mobilizar em favor de algo mais nobre do que aumentar o próprio salário, além do Gabeira e mais meia dúzia que não ocupa os dedos das mãos?
Sempre achei que ser engraçado era ser um cara feliz e em sintonia com o seu tempo, mas percebi - a duras penas que não. Percebi que meu sarcasmo, meu tom debochado e minha veia piadista se deve a total descrença num futuro melhor. Sabe aquela coisa do "já que está tudo uma merda, vamos ligar o foda-se e dar risada", como na cena do Titanic em que alguns náufragos pedem mais bebida e música de qualidade ou quando Dom Pedro II oferece o fatídico baile da Ilha Fiscal? O nome disso é desesperança.
Houve um tempo em que o futuro era animador e viável. Será mesmo?
Abraços do Lucas, o mais Franco.