quinta-feira, janeiro 10, 2008

Essa tal felicidade


"Felicidade se encontra em horinhas de descuido"
(Guimarães Rosa)

Olá pessoal!

Fui uma criança muito feliz, falante, amigável e tinha uma gargalhada, segundo dizem, contagiante. Minha mãe diz que guarda ainda hoje o som, o tom, a cor e a textura do riso.

É estranho, mas fico até assustado e perplexo só de imaginar que um dia fui plenamente feliz e satisfeito com a minha existência e condições e isso porque trago em mim uma insatisfação latente, gritante, dilacerante e por quê não dizer cafona? Durante muito tempo achei que é assim mesmo, ou seja, a infância com toda sua candura e inocência traz também o cinismo necessário para a felicidade e que devemos fazer de tudo para que um infante seja plenamente feliz e possa construir uma espécie de poupança de satisfação, já que a adolescência e a vida adulta serão aquela bosta que estamos "carecas de saber".

Agora, pensando melhor, acho que não. Acho que da mesma forma que existe gente feita para cantar, ser advogado, ator, carpinteiro e mais o que lhes vier a cabeça, existe também o grupo das pessoas felizes - ou seja - aquelas que, por algum motivo bem subjetivo, sabem ser felizes e satisfeitas seja indo passar férias em Dubai ou comendo frango assado de domingo acompanhado do futebol na televisão aberta. Essas pessoas podem até passar pelos mais dramáticos percalços que logo estarão novamente felizes, irritantemente e invejavelmente felizes e claro, me deixando muito irritado. Sim, assumo que a felicidade constante dos outros me incomoda muito porque me deixa ciente do quão sou inapto para ela. Mesmo porque, como já cantou a Zélia Duncan, a dor é elegante e elegância é sempre mais sedutora do que felicidade.

Ah, mas isso é uma bobagem! Afinal existe também o grupo dos felizes e chiques, uma vez que a felicidade não tem um perfil de público, ela está ou não está com você. Sim, essa é uma outra verdade que me irrita muito.
Eu particularmente não fico feliz com facilidade hoje em dia e tanto isso é verdade que estou aqui perdendo tempo para escrever sobre ela, tentando entende-la e disseca-la e, pela primeira vez me pergunto: O quê me deixa feliz de fato? O quê eu gosto e não gosto no ser humano e na vida?

Bem, eu não gosto de gente que se preserva, não se expõe (tenho até um certo desdém por essa categoria), não gosto de gente conservadora (se for nova então eu tenho asco), detesto sectarismo, falta de delicadeza no trato com as pessoas, categorias e mais tudo o que lembre ou faça parte do comportamento imbecil de uma classe branca, falida e ocidental. E o que mais me desagrada nessa vida é o cinismo. Sabe aquela “pessoinha” menor que vai entrando na sua vida íntima ou social e vai te minando com aquela pequenez típica dos inúteis, dos idiotas e dos sujos? Pois é... eu os odeio com tal intensidade que tenho vontade de esmaga-las com uma prensa em brasa. Mas isso é assim desde muito cedo, sempre tive uma certa aspereza com essa gentalha e adoro odiá-las. Sei que isso é muito feio e também pequeno, mas gosto de nutrir raiva por esse tipo de gente e não tenho a menor piedade com eles. Adoro saber que pessoas como o Senador ACM ou Pinochet sofreram para morrer e fico puto quando a causa da morte são aquelas dádivas do tipo enfarte fulminante dormindo. Acho uma sacanagem!
Quanto às coisas que me deixam felizes, me vêm a cabeça lugares com grande quantidade de água limpa (mar, rio, lago, cachoeira, piscina grande e particular), música boa com timbres raros e interpretações antológicas, grama verde, árvores frondosas, arquitetura bonita e bem acabada, coisas preservadas quando valem a pena, encontrar pessoas inteligentes, interessantes e engraçadas, comer bem e em grande quantidade, conforto, segurança, tempo de sobra para dormir até acabar o sono e muito, muito dinheiro para ter tudo isso sem me preocupar com nada. Acho que é por isso que minha felicidade é tão rarefeita.
Bem, eu ainda preciso ser apresentado a essa Senhora chamada Felicidade ou pelo menos encontra-la seja no dia a dia banal ou na escuridão dos sentimentos mais profundos porque assim não dá para ficar.

Abraços do Lucas, o mais Franco.