quarta-feira, maio 02, 2012

Louca Me Chamam!


Ambiente de luzes, bebidas e conversas animadas. No canto escuro da sala está ela – pele alva, cabelos negros e lisos, olhos azuis, boca vermelha e aquele ar de quem está procurando algo. Na sexta-feira ela sempre se veste com cores vibrantes e cortes insinuantes. Naquele dia seu vestido de seda cara alcançava até o meio da coxa, bem acinturado, turquesa com um decote em “v” sem manga acompanhado de um sapato preto com salto bem alto. Na verdade nem estava tão quente, mas ela não admite passar a noite escondida em panos e, como costuma dizer, já que é para se esconder que seja com um cigarro e um bem servido “Apple Martini” pago por um cavalheiro ou dama bem disposto.


A noite prometia e não seria ela que ficaria a ver navios. Ah! Seu nome? Deborah. Aliás, convenhamos, nome que vai explodindo em sílabas e termina bem aberto em “ah”. Logo olha para a porta e vê um moço entrando todo seguro de si, meio folgado, oportunista e pensa que talvez já tenha encontrado o seu grande amor de uma noite só. Passa a fitá-lo descaradamente até que, impaciente, resolve ir até seu encontro e ver o que consegue com seu charme de dama impura. O rapaz está sentado do outro lado do bar conversando com o bartender.


Ela (sorrindo maliciosamente): Olá! Posso me sentar ao seu lado?


Ele (com seu tom canalha e irresistível): Claro.


Ela: Bem, serei direta porque não sou moça de rodeios. Está esperando alguém?


Ele: Olha só! Acho que estou diante de uma devoradora...


Ela (rindo e mexendo seu drinque com o dedo indicador): Será? Cabe ao homem ser presa ou predador, devo alertar.


Ele: Na verdade estou, mas acho que tenho uns trinta minutos ainda...


Deborah olha fixamente para ele com seus olhos desconcertantemente azuis e, sem dizer nada, dirige-se ao banheiro. Antes de entrar, vira-se e olha mais uma vez. O rapaz, tão acostumado a moças passivas e inebriadas com seu tom de macho pegador, sente um frio na espinha e entende que naquela situação não pode simplesmente recusar. Olha dos dois lados e com a naturalidade possível vai atrás da mulher que o abordou de forma tão incisiva. Ao chegar, ela abre o reservado, puxa o rapaz, tranca e sem que ele tivesse alguma chance de domínio, dispara:


Ela (levantando o vestido e abaixando a calcinha): Vai! Prove agora.


Ele, sem nem pensar na hipótese de desobedecer, abaixa-se e começa lambendo e mordiscando a coxa esquerda, depois a direita, enquanto ela vai se mexendo com tamanha facilidade em tão apertado espaço que passa a impressão de que já está acostumada com esse tipo de situação. Ao chegar no destino ela pede para ser bulinada com os dedos. Ele obedece. Deborah se movimenta tanto em sua mão que num dado momento seu sexo fica úmido e ela mais uma vez dá uma ordem que deve ser atendida:


Ela: Chupa! Vai! Enfia essa língua em mim.


Ele (atônito): Delícia! Adoro uma putinha.


Deborah olha para baixo e atônita de ódio puxa o rapaz pelos cabelos, levanta-o surpreso com os lábios molhados e sem dizer uma palavra arruma-se rapidamente, abre o reservado, sai, o deixa ali dentro, vai até a pia, retoca o batom, lava as mãos, volta para o bar e pede um novo drinque. Quando vê que não tem mais ninguém ele sai e volta para o bar. Senta-se onde estava, fuzila a mulher que o abordou com o olhar, pede a conta e fica do lado de fora esperando uma moça de família que chega uns quinze minutos depois.


Enquanto isso Deborah começa a olhar em volta para ver outro ou outra que termine o serviço começado. Na verdade ela nem se ofendeu com o anterior, mas não queria começar e terminar com o mesmo. Por acaso, naquela sexta-feira, encerrou a noite com outra mulher que, inteiramente sedenta de seu domínio, fez com que ela se sentisse a mais realizada das fêmeas do Baixo Augusta. Ao se despedirem com um longo e escandaloso beijo na porta do Eclético’s a “presa” perguntou:


Ela: Você é sempre tão decidida?


Deborah: Uma mulher precisa estar sempre pronta, não?


P.s: Esse conto foi escrito em 2010 e me inspirei na canção "Crazy He Calls Me", interpretada magistralmente pela Billie Holiday.

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